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Dólar apresenta queda de quase 2%, com reuniões de Lula e Haddad no foco; Ibovespa sobe
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O dólar recuou 1,71%, cotada em R$ 5,5683. No entanto, o principal índice acionário da bolsa de valores brasileira encerrou em alta de 0,70%, aos 125.662 pontos.
- Por Camilla Ribeiro
- 03/07/2024 21h33 - Atualizado há 3 meses
Nesta quarta-feira (3), o dólar deu trégua e encerrou a sessão em queda de 1,71%, de volta aos R$ 5,56 e devolvendo parte dos ganhos dos últimos dias.
Mesmo com o mercado seguindo cauteloso sobre o rumo das contas públicas brasileiras e às críticas do presidente Lula ao Banco Central (BC), sinais mais positivos de controle da inflação nos Estados Unidos animaram os mercados.
Aqui, investidores acompanharam as reuniões que ocorreram ao longo do dia entre Lula, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a equipe econômica do governo.
O governo disse somente que o encontro trataria do "tema fiscal", mas o mercado acredita que medidas para tentar conter o avanço do dólar também foram discutidas.
O dólar está vivendo semanas de disparada e, ontem, encerrou o dia cotada a R$ 5,66, após bater os R$ 5,70 durante a tarde.
Em dois anos e meio, esse foi o maior patamar e refletiu, sobretudo, a cautela do mercado com as recentes críticas de Lula ao BC e seu presidente, Roberto Campos.
Lula disse também, na terça-feira (2), que existe “jogo de interesse especulativo” contra a moeda brasileira e que o governo avalia medidas.
O presidente disse também que a reação de alta do dólar após as críticas feitas por ele ao Banco Central e ao seu presidente, Roberto Campos Neto, "não têm explicação".
O principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, Ibovespa, fechou em alta.
O dólar
O dólar fechou em queda de 1,71%, cotado a R$ 5,5683. Na mínima, chegou a R$ 5,5404.
Com o resultado, acumulou:
-queda de 0,36% na semana;
-recuo de 0,36% no mês;
-alta de 14,75% no ano.
No dia anterior, o dólar apresentou alta de 0,22%, cotado a R$ 5,6652. Na máxima do dia, chegou a R$ 5,7007.
Ibovespa
O Ibovespa encerrou em alta de 0,70%, aos 125.662 pontos.
Com o resultado, acumulou:
-alta de 1,42% na semana;
-ganhos de 1,42% no mês;
-perdas de 6,35% no ano.
Na véspera, o índice teve alta de 0,06%, aos 124.787 pontos.
O que está alterando os mercados?
O cenário internacional, principalmente os Estados Unidos, foi um dos fatores que influenciaram a forte queda do dólar neste pregão.
Na véspera, o presidente do Fed disse acreditar que, até o fim de 2025, a inflação americana deverá estar de volta à meta e destacou que o mercado de trabalho no país apresenta sinais de arrefecimento.
Com a inflação mais controlada o Fed reduz os juros na maior economia do mundo, hoje entre 5,25% e 5,50% ao ano.
Com o mercado de trabalho muito aquecido, a tendência é de maior inflação, já que mais dinheiro vai para a mão da população.
"Nos Estados Unidos, o relatório JOLTS de abertura de vagas de trabalho veio acima das expectativas de mercado, mas continuou mostrando uma tendência de desaceleração, com a relação de vagas e o número de desempregados atingindo 1,24", destaca a XP Investimentos, em análise.
Os analista destacam que Powell reforçou que "ainda são necessárias evidências adicionais para se determinar se a tendência de queda é sustentável."
O foco do mercado esteve com a ata da última reunião de política monetária do Fed.
De acordo com o documento, as autoridades do BC norte-americano reconheceram que a economia dos EUA parece estar desacelerando e que "as pressões sobre os preços estão diminuindo".
Mesmo assim, os dirigentes continuaram com a postura de "esperar para ver", antes de se comprometerem com o início do ciclo de corte dos juros por lá.
No entanto, no cenário doméstico, o destaque do pregão ficou com as reuniões de Lula com Haddad para tratar sobre o cenário fiscal.
Nesta tarde, durante o anúncio do Plano Safra voltado para a agricultura familiar, no Palácio do Planalto, Lula afirmou que “responsabilidade fiscal é compromisso” e que o governo "não joga dinheiro fora".
"Aqui, nesse governo, a gente aplica o dinheiro que é necessário, a gente gasta com educação e saúde, naquilo que é necessário. Mas a gente não joga dinheiro fora. Responsabilidade fiscal não é uma palavra, é um compromisso desse governo desde 2003. E a gente manterá ele à risca", disse Lula.
Ontem, o presidente Lula disse que "não se pode inventar crises" e "jogar a culpa" da disparada do dólar nas últimas semanas nas declarações que ele deu.
"É um absurdo. Obviamente que me preocupa essa subida do dólar. Há uma especulação. Há um jogo de interesse especulativo contra o Real nesse país. Eu tenho conversado com as pessoas o que a gente vai fazer. Estou voltando quarta-feira, vou ter uma reunião. Não é normal o que está acontecendo", argumentou Lula.
O presidente voltou a falar, também, sobre o comando do BC, defendendo que a instituição seja autônoma e que Campos Neto tem um viés político.
"A gente precisa manter o Banco Central funcionando de forma correta, com autonomia, para que o presidente do Banco Central não fiquei vulnerável às pressões políticas. (...) Quando você é autoritário você resolve fazer com que o mercado se apodere de uma instituição que deveria ser do Estado. Ele não pode estar à serviço do sistema financeiro, ele não pode estar à serviço do mercado".
Nesta segunda, Lula já havia dito que o próximo presidente do BC deve olhar para o Brasil "do jeito que ele é e não do jeito que o sistema financeiro fala".
"Eu estou há dois anos com o presidente do Banco Central do [ex-presidente Jair] Bolsonaro, não é correto isso", afirmou o presidente.
"Eu tenho que, com muita paciência, esperar a hora de indicar o outro candidato, e ver se a gente consegue... ter um presidente do Banco Central que olhe o país do jeito que ele é, e não do jeito que o sistema financeiro fala", acrescentou, destacando que "quem quer BC autônomo é o mercado".